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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Poetic Homage to Parfumer: Serge Lutens & Christopher Sheldrake


Je suis né au Printemps
et suis Flora,
la déesse des fleurs
avec vous parfum des
fascinante roses
vous, mon Dieu Lutens
me faire la Majesté

de pure beauté

la plus parfaite
la plus divine
Virginalement

désirée
Magnifiquement
parfumée


(by Cris Rosa Negra, Fragrance Writer from Brazil)

"Monsieur Serge Lutens and Christopher Sheldrake, thanks for creating my Sa Majesté la Rose"

Paiting: Zephyrus wooing Flora, by Henrietta Rae. Fonte: artmagick.com

terça-feira, 15 de julho de 2008

Body Kouros, Yves Saint Laurent



Body Kouros, um dos legados da perfumaria do saudoso Yves Saint Laurent (1936-2008), foi criado pela nez(nariz, em francês) Annick Menardo como uma representação do homem Kouros, palavra grega que simboliza a juventude masculina, o homem belo em virtudes, esculturalmente bem delineado em sua forma física, com corpo ereto e nu como símbolo da virilidade e da perfeição. No período greco-arcaico, as esculturas Kouros representavam homens jovens cujos atributos de harmonia, estética corporal, elegância e pura graça os concebiam como descendentes de Apolo, o Deus grego da beleza, das artes, da poesia e da música.

Para conceituar a fragrância Body Kouros, diferente do seu clássico antecessor Kouros (chipré especiado, tradicionalmente, amado ou odiado, criado por Pierre Bourdon in 1981), Annick Menardo criou um perfume mais jovial , incensado e adocicado, classificado como um oriental especiado com notas de incenso, noz moscada, eucalipto , cedro da China e notas resinosas de cânfora amadeirada (camphortree) e benjoin.

Se os deuses da Grécia Antiga eram imortais, mas seus sentimentos eram humanos, então os homens podem ter o desejo de imortalizar-se como divindades humanas usando Body Kouros. Deliciosamente perfumados como um Apolo que atrai musas para as mais diversificadas reações sensoriais e físicas.
Body Kouros penetra no âmbito deste cenário grego com o deleite de uma saída de notas incensadas e especiadas que atraem ninfas exuberantes no Olimpo. Este incenso é envolvido pela base que, ainda não totalmente balsâmica e doce, explode ondas verde-amadeiradas, tenuamente medicinais de eucalipto e Cedro, como um alucinógeno phármakon grego capaz de transferir homens e mulheres para o Olimpo, ao encontro das sensações da beleza entorpecedora de Afrodite, do amor erótico de Eros, do êxtase orgiástico de Dionísio e da arte poética de Apolo; para a contemplatação olfativa do divinal e do profano, da pureza e da luxúria, do bem e do mal.

A pele exala o aroma do Olimpo, tudo em um blending olfativo ornado de nuances cristalinas, porém viris. Cristalinas como musas de Apolo que dançam suavemente ao seu redor, enfeitadas com grinaldas, cítaras, rosas e túnicas transparentes; exibindo seus corpos virginais quase desnudos, na iminência de serem desposados com o mais belo e másculo dos membros.


Quando Apolo está completamente deslumbrado com o poder da sua fragrância sobre suas protegidas e amantes musas, um desconcertante efeito balsâmico toma lugar do espaço olímpico; doce e atrativo que, misturado à névoa incensada da fragrância, desperta o jovem Kouros para o prazer luxuriante. Vagarosamente, a composição é envolvida por notas sutilmente intensas de camphorwood e benjoim. São notas resinosas, misteriosas e provocativas como rastros de um aroma sensual para atrair ménades de Dionísio.

Surgem dionisíacas endoidecidas por este odor, cada vez mais lascivas, delirantes e embriagadas para devorar o corpo Kouros. Cercados de ninfas e bacantes, os deuses humanos que usam Body Kouros morrem como estátuas. Já não são mais Kouros, seus corpos já estão entregues ao prazer terreno, o da carne perfumada.

Fotos: Publicidade Body Kouros, YSL. Images de Parfums

Kouros e Afrodite . Wikipedia.org

Musas gregas, Pantheon.org

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Poetic Homage to Parfumer: Maurice Roucel



"I am your Mermaid, your Syren
My song is in the air
as sweet as my parfum
always luring you
you, my parfumer"


(by Cris Rosa Negra, Fragrance Writer from Brazil)

"Maurice, thanks for creating my L de Lolita Lempicka"



Paiting: The Fisherman and the Syren, by Lord Frederick Leighton. Fonte: Art Renewal Center

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Rose Secrète EDP, Il PROFVMO





Deitada no meu leito aconchegante, olhava para o teto do quarto com o olhar distante e contemplativo. Um olhar que perpetuava a captura crescente de algo além do branco da parede pintada, um olhar ávido por colorir com flores e amores a brancura solitária.

Contemplava o branco neve, gélido e intermitente que degladiava-se com o comforto da minha cama de finos lençois coloridos, quente e de um calor fugaz a cada movimento do meu corpo. Ele se movia pelos lençois, inquieto e nada mais.

Não suportava mais a falta de cor, do olor e dos versos de amor e pensei nas rosas secretas, a de Il Profvmo e a de Yeats. Antes de agarrar-me a "longíqua, tão secreta, inviolada Rosa" da poesia, debrucei-me sobre o travesseiro e derramei algumas gotas de Rose Secrète nos pontos mais secretos do corpo. Que êxtase! Sentia meu coração vibrar como um botão de rosa a desabrochar. Fechei os olhos, toquei as mãos suavemente no rosto e adormeci.




A brancura desaparecera por completo e pétalas de veludas rosas rosas surgiam do alto, caindo sobre minha pele, múltiplas e singulares, cada uma com um toque diferente, buscando desvendar locais secretos da minha pele. Rose Secrète, inebriante floral envolvia-me como os versos de Yeats e eu sussurava para mim mesma" Envolve-me na minha hora das horas", inviolada Rosa viola o meu secreto ser com o mais sedoso e doce dos toques.


A Rose Secrète de Il Profvmo desvendava os desejos do meu corpo e do meu coração, rosas calorosas, mesmo que delicadas exploravam meu eu corporal, meu eu espiritual, simplesmente meu eu. Mais pétalas embrenhavam-se em mim, não mais longíquas mas ainda secretíssimas, ousadíssimas, amicíssimas em sua forma de mover-se na minha pele voraz, carregada de um leve almíscar coadjuvando com aquela chuva de rosas.

A última pétala caiu sobre meus lábios e, genuinamente, sacou-me um beijo roubado e "por um sorriso, um brevíssimo sorriso (também) roubado", meu coração secreto desabrochou e o sonho não se acabou. Ainda pairava no ar o aroma de Rose Secrète, o perfume que, dialogando com os versos de Yeats, " encontrou enfim, entre riso e lágrimas,essa mulher tão radiosa em sua beleza".

Leia o original the secret Rose by Yeats, clicando aqui
Tradução em português A Rosa Secreta de Yeats, clique aqui
Para conhecer Il Profvmo, acesse o site e conheça o trabalho de Silvana Casoli.
Fotos na sequência, Rose Secrète EDP e rosas do site AmeRoses.com

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O perfume da benção do amor

Entre véus de seda, serás meu e serei tua. Os óleos de mirra e olíbano se derramarão em nossos corpos e exalarão a benção do amor nupcial, o amor do eterno Eu te amo.


(Cris Rosa Negra)










Foto: Attar árabe com olíbano e especiarias.

Vídeo: I love you, interpretada por Omar Faruk

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O perfume e a Bíblia

Hoje temos no blog algumas belas citações sobre o perfume no contexto bíblico. Este post tem o propósito somente de reverenciar os aromas na Bíblia, não é uma pregação, no entanto deleite-se com as palavras e o perfume que elas representam, algo poderá tocar o seu coração e engrandecer a sua fé.
Em muitos momentos do blog, como alguns anteriores, diálogos entre perfumes e outros escritos serão relacionados pois perfume é um organismo vivo, interagindo com a vida em vários âmbitos.
A bíblia é um dos livros com mais belas citações sobre os aromas, além do bálsamo das palavras de conforto, fé e amor. Para as citações principais, selecionei os livros de Provérbios, Salmos e Cânticos dos Cânticos, respectivamente, sabedoria, louvor e amor; grandes virtudes para qualquer ser humano. Estes livros expressam uma fascinante poesia embutida nas palavras, como relatado em Salmos 45:7-8 "Amas a justiça e odeia a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros ungindo-te como óleo de alegria. Todas as tuas vestes exalam aroma de mirra, aloés e cássia; nos palácios adornados de marfim ressoam os instrumentos de corda que te alegram". Lindo fragmento, mais lindo do que ele seria receber agora os óleos de mirra e olíbano derramados sobre a cabeça como uma unção de Deus. Seja abençoado(a) e lembre-se "somos para Deus um bom perfume" (2 Coríntios 2:15).

Um abraço, Rosa Negra





"Perfumei a minha cama com mirra, aloés e canela. Venha, vamos embriagar-nos de carícias até o amanhecer" (Provérbios 7: 17)

"Perfume e incenso trazem alegria ao coração; do conselho sincero do homem nasce uma bela amizade" (Provérbios 27: 9)

"A figueira produz os primeiros frutos; as vinhas florescem e espalham sua fragrância". (Cântico dos Cânticos 2: 13)

"Quão deliciosas são as suas carícias, minha irmã, minha noiva! Suas carícias são mais agradáveis que o vinho e a fragrância do seu perfume supera o de qualquer especiaria!.. a fragrância de suas vestes é como a fragrância do Líbano". (Cântico dos Cânticos 4: 10-11)

"Suas faces são como um jardim de especiarias que exalam perfume, seus lábios são como lírios que destilam mirra" (Cântico dos Cânticos 5:13)

"As mandragóras exalam o seu perfume, e à nossa porta há todo tipo de frutos finos, secos e frescos, que reservei para você, meu amado" (Cântico dos Cânticos 7: 13)


Curiosidades sobre perfumes e Bíblia, acesse Bíblia online

Versículos extraídos de Bíblia sagrada português-inglês = Holy Bible portuguese- english.______. São Paulo: Editora Vida, 2003
Foto: Ouro, Olíbano e Mirra , Fonte: Giftscatholic.com

sábado, 20 de outubro de 2007

Pela cultura do aroma, eu lhes agradeço!

Tanto para quem é grande conhecedor do universo da perfumaria, quanto para quem é simplesmente um leigo simpatizante, um fato é fato: não há tantos livros e publicações sobre perfumes, pelo menos em português e com linguagem acessível que possibilitem uma visão geral, sucinta e fascinante sobre perfumes. Neste mês, a Duetto Editorial lançou como parte integrante da edição comemorativa de um ano da Revista L´officiel um guia de perfumes. Este guia foi , resultado de um trabalho de dois anos de pesquisas de mercado e contou com os trabalhos de diversos profissionais, dentre eles Renata Ashcar, especializada em perfumaria e cosméticos há 21 anos na área e autora do livro

Brasilessência: A cultura do perfume (Best Seller), responsável também pelo museu Espaço Perfume Arte & História, dedicado à historia & arte da perfumaria, o expertise da casa de fragrâncias Firmenich, uma das mais conceituadas empresas de aromas e fragrâncias do mundo e o editor de arte Mondrian Alvez.
Pela cultura do aroma, eu abri espaço no blog para agradecer a iniciativa desta equipe e brindá-los com meu agradecimento, (in)diretamente, em nome de todos os apaixonados por perfumes que eu conheço.O guia de perfumes é uma
bela iniciativa tida como um presente para os mais aficcionados e, o melhor, um material didático que prolifera a cultura do perfume. Como forma de contribuir com esta cultura, deixo aqui um trecho do guia de perfumes o qual achei interessante, que é a
mágica história da perfumaria com curiosidades sobre o perfume e sua história e sugiro a todos os que gostam de perfumes, correr às bancas ou entrar em contato com a Duetto Editorial para garantir o seu exemplar. Lembrando que meu blog não tem nenhuma relação ou vínculo com a editora e este post é de decisão pessoal sem qualquer influência de terceiros. Sou apenas uma leitora apaixonada por perfumes e uma scentblogger dedicada à despertar o interesse pelo universo da perfumaria. O meu blog é pessoal e guiado pela minha liberdade de expressão. Qualquer perfume news que eu divulgue aqui está alinhada à esta liberdade individual.

Obrigada e boa leitura! Rosa Negra




" A busca pelo divino marca a história do homem.O mais antigo cheiro conhecido é o da fumaça, que exalava da queima de madeiras, especiarias, ervas e incensos. Vem daí a origem da palavra perfume: per,através e fummum, fumaça. No ano 3000 a.C., os egípcios consideravam que suas orações chegariam mais rápido aos deuses se viajassem em nuvens de fumaça aromática. Eles também acreditavam na reencarnação e usavam as fragrâncias para mumificação. Por volta de 1500 a.C., com a rainha egípica Hatshepsut surgiram vários rituais dedicados à beleza. Um dos mais curiosos era a utilização de cones perfumados na cabeça, que, além de amenizar o efeito do sol forte,conservavam a pele. Traziam óleos aromatizados com folhas, raízes,ervas,flores, leite e mel,que ao derreter com o calor escorriam pelo rosto e tinham um efeito emoliente e refrescante.

Uma viagem pelo passado

Gostar de se perfumar não era mérito apenas dos egípcios.Por volta do ano 800 a.C., os gregos já exportavam óleos de flores e plantas maceradas.E, segundo a mitologia grega, Afrodite é considerada também a divindade das fragrâncias. No caminho dos aromas, a cidade da Babilônia, na Mesopotâmia, tornou-se o centro comercial de especiarias e perfumes por volta de 650 a.C. Dois séculos mais tarde, o rei dos persas Alexandre,o Grande, entregou sementes e mudas de plantas da Pérsia ao seu professor em Atenas, Teofrasto. Ele foi o primeiro autor de um tratado sobre cheiros. Na obra, detalhava receitas aromáticas, descrevia prazos de validade,indicava usos terapêuticos e falava também da importância de proteger os perfumes do sol, pois a luz e o calor alteravam seu odor. A lição é válida até hoje. Outra personalidade importante marca o uso dos aromas, mas como um artíficio de sedução. Cleópatra. Ela realizava rituais perfumados para intensificar seu poder de atração. Untava o corpo com essências aromáticas, criando em torno de si uma aura mágica. Também recebia Marco Antonio, seu grande amor, em uma cama coberta de pétalas de rosa.Antes de envenenar-se, tomou um banho e se perfumou com as mais finas fragrâncias. Quando os soldados a encontraram morta em seus aposentos, ainda puderam sentir seu inebriante perfume. O grande império conquistado pelos romanos contribuiu para a expansão da perfumaria, pois eles consumiam aromas de forma intensa. No período imperial, o gosto dos romanos por incensos e perfumes passou dos limites. Até os cavalos eram perfumados. O exagero era tanto, que o imperador Nero encomendou para o funeral de sua esposa, Popeia, quantidade de incenso superior ao que toda a Arábia poderia produzir em dez anos.E por falar em árabes, eles exportaram seus conhecimentos empíricos para outros povos e disseminaram também conceitos científicos para outros povos, como a destilação. O processo progrediu com os chineses e foi o responsável, séculos depois, pela criação do álcool concentrado. A precursora da água de colônia, a Água da Rainha da Hungria, surgiu em 1370, e foi o primeiro preparado perfumado em base alcóolica. As pesquisas prosseguiram em destilarias e levaram à extração de diversos óleos essenciais. Em 1612 foi fundada, em Florença, na Itália, a Officina Profumo di Santa Maria Novella,em cuja matriz os frades dominicanos produziam essências , pomadas, bálsamos e outros preparados medicinais, desde 1221. Muitas dessas fórmulas, fabricadas até hoje, foram usadas por Catarina de Médicis, uma nobre florentina que se mudou para a França em 1533, para se casar com o rei Henrique II. Na sua caravana estava seu perfumista pessoal, Renato Bianco.Conhecido como René Blanc, ele conferiu à França lições na arte da perfumaria e fundou a primeira butique de perfumes em Paris, o que deu um impulso definitivo para produção e comercialização de itens aromáticos.


Elizabeth Taylor em 1963 : Na tela de cinema como a lenda Cleópatra


O perfume conquista o mundo

As fragrâncias de Catarina de Médicis eram feitas em Grasse, pequena cidade no sul da França. Luis XIV, o "Rei Sol", que era muito sensível a odores e tinha um perfume para cada dia da semana,também obtinha seus frascos da charmosa cidade francesa.
Foi o rei Luis XV e sua amante, Madame de Pompadour, que estimularam a difusão do perfume da França por toda a Europa. Isso porque ela, fiel ao estilo rococó, ditava a moda, a beleza e a arte da época. Contam que gastava horas no toalete, banhando-se com sabonetes de lavanda, outras flores e ervas. Usava adstringente e incrementava o penteado com pomadas perfumadas. A rosa era o elemento principal da maioria das fragrâncias, misturada a lavanda, cravo, noz-moscada, musgo de carvalho e íris. Madame de Pompadour também amava as violetas e suas luvas tinham perfume de neroli. Com o generoso estímulo de seu amante, ela encorajou a prosperidade de Grasse e a cidade passou da produção artesanal para a indústria da perfumaria. Mas não foi naquela pequena cidade que começou a jornada mundial da Água de Colônia. Diz a história que foi o italiano Jean-Marie Farina que, em 1714, registrou, na cidade alemã de Colônia, um produto de nome Kölnisch Wasser (Água de Colônia...). Ele era feito com essências naturais italianas:neroli, bergamota, lavanda e alecrim diluídos em álcool neutro (essa água é comercializada até hoje pela marca Roger & Gallet). Mais tarde, em 1790, surgiu a célebre Kölnisch Wasser 4711, criada por Mülhens. A ligação desse perfume como o mundo da perfumaria francesa aconteceu com a Guerra dos Sete Anos. Isso porque a cidade de Colônia recebeu um hóspede ilustre, e Farina ganhou um garoto-propaganda de peso:Napoleão Bonaparte. De acordo com a história, ele despejava um frasco inteiro da tal Água sobre a cabeça. Para Napoleão,sexo e cheiro estava intimamente ligados. Depois de ficar durante meses em batalha, mandava avisar à sua amada Josefina: "Volto em três dias, não se banhe". Tudo porque ela adorava aromas marcantes, como almíscar e patchuli, e ele amava os refrescantes. Quando Napoleão se separou de Josefina para casar-se com outra, ela não titubeou:espalhou almíscar nos aposentos imperiais. Isso fez com que Napoleão lembrasse dela por muito e muito tempo. Vinganças à parte, ele foi o responsável por colocar a França à frente nas pesquisas científicas e na produção de artigos luxuosos. A família Bonaparte teve outra personagem ilustre no mundo dos aromas:a requintada espanola Eugênia, esposa de Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão. A imperatriz lançou um novo estilo de perfume: Eau Impériale, um mix de notas cítricas e lavanda. Considerada reanimadora para as pobres mulheres de época, que sofriam com os espartilhos, a fragrâcnia foi criada em 1861 por Guerlain e tinha ono frasco o brasão dos Bonaparte:abelhas pintadas à mão , em ouro. Por sorte, em meados de 1900 as mulheres estavam mudando e celebravam a vida. A Belle Époque agitou a arte, a moda e a perfumaria. Perfumes e artigos de toalete ganharam espaço. Mulheres elegantes lotavam os cafés parisienses e exalavam fragrâncias variadas. Com a chegada do século 20. Paris era a mais chique das cidades e a perfumaria se tornou sinônimo de sofisticação, com frascos feitos de cristal Lalique. Na famosa Exposição de Artes Decorativas e das Indústrias Modernas, realizada em Paris, em 1925, a perfumaria francesa já estava definitivamente ligada à moda e se consagrou como um rico universo a ser conquistado. Mas isso é outra história "


Madame Pompadour : perfume addict à francesa


(trecho extraído do Guia de perfumes,parte integrante da Revista L´officiel nºb 13, pgs 4 -7,
Editora: Renata Ashcar)


As fotos divulgadas não fazem parte da matéria do guia. Na sequência,
foto da edição L´officiel + guia (Fonte: Site da Dinap),
atriz Elizabeth Taylor no filme Cleópatra de 1963 (Fonte: imdb.com) e Madame Pompadour( Fonte: Site Visitvoltaire)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Hypnotic Poison, Dior




Hypnotic Poison, hipnótico, instigante e lascivo; mas não qualquer lascividade como perfumes mais sexuais. Hypnotic Poison se divide bem entre o conforto da fragrância e o apelo sensual da sua composição, destacada pelas notas de amendôas, baunilha e musk . É uma baunilha libidinosa que alcançará o clímax após umas três horas de evolução e, depois, provocará aquela sensação de ser enrolada entre os lençois, saciada por um aroma doce, quente, levemente almiscarado após um orgasmo avanilado. Muito tempo para um gozo abaunilhado? Absolutamente não, é o que toda mulher deseja. Curtir o momento e ser conduzida ao prazer olfativo por um longo tempo; uma experiência bem mais prazerosa do que curtir a famosa 'rapidinha' de tantos perfumes abaunilhados e sem criatividade.
As preliminares do perfume são bem provocativas e tornam Hypnotic Poison bem mais sexy no decorrer de sua evolução. É um tipo de envenenamento, narcótico como uma droga, por isso muitas pessoas chegam a sentir um cheiro medicinal no começo. Felizmente, não é o que sinto em minha pele. Melhor do que isso é sentir o aroma de uma taça de licor para esquentar a relação.
As notas de saída apresentam um caratér mais licoroso, como um amaretto. O aroma amendoado e amargo na pele é evidente, muito mais do que a vanilla. Em alguns momentos, o floral pode ser percebido através da nota de jasmin sambac, embora isso não seja tão consolidado na evolução. Que bom ! Imaginar um floral em Hypnotic Poison é como romantizar demais os sentidos lúbricos.
Sentidos, uma boa palavra para relacionar com Hypnotic Poison; além do olfato e paladar já mencionados, a visão do perfume se relaciona à imagem de uma mulher jovial, mas com uma intenção provocativa madura. Seus desejos sensuais são realizados e ela sabe como conseguir isso. Hypnotic Poison é para mulheres conscientes da sua sedução, aquelas cujos desejos encobertos podem ser revelados prazerosamente.
Logo, nunca penso que a baunilha do perfume e demais notas que co-habitam com ela formem um mix adolescente, como uma poção perfumada para meninas sem experiência. Pelo contrário, penso em Hypnotic Poison como um perfume para uma mulher com alma muito jovem, que busca muito mais e precocemente a liberdade e realização de seus desejos e sabe hipnotizar, sendo dissimulada ou ingênua. Por ter esta visão do perfume, a imagem com a qual relaciono Hypnotic Poison é, desde o frasco até o resultado da experiência olfativa, a imagem da menina mulher do livro Presença de Anita, escrito em Mario Donato e publicado no final da década de 40. As provocações maduras de Anita, sendo ela jovem, a tornam muito adulta, um veneno em forma de uma mulher magnética, quase diabólica. Provocações que só poderiam ser acompanhadas por Hypnotic Poison.



Fotos: Frasco Hypnotic . Fonte : Sacks & Americanas.com
DVD Presença de Anita . Fonte: Globo Marcas

sábado, 22 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Patrick Süskind

"Ele freqüentemente ficava lá, encostado à parede, ou encolhido em um canto escuro, olhos fechados, boca entreaberta e as narinas dilatadas, quieto como uma vara de pesca numa vagarosa corrente escura. E quando finalmente um sopro de ar levava um fio delicado de aroma até seu nariz, ele o tomava e não o deixava ir embora. Então cheirava somente esse odor, segurando-o firmemente, puxando-o para dentro de si e preservando-o para sempre. O odor poderia ser um velho conhecido ou uma variação de um deles; poderia também ser um novinho em folha, com praticamente nada similar ao que ele já havia cheirado, ou mesmo visto, até aquele momento: o cheiro de seda passada, por exemplo, de chá de tomilho-selvagem, de um bordado feito com fio de prata."

Patrick Süskind, O perfume



Foto: O ator Ben Whishaw como Grenouille, o protagonista, que é dotado de prodigioso sentido de olfato na adaptação do filme Perfume - a história de um assassino para o cinema.

O perfume na literatura com Marcel Proust

"Quando de um passado muito distante nada subsiste depois das pessoas estarem mortas, depois das coisas estarem quebradas e dispersas, somente sabores e cheiros, mais fragéis, porém mais duradouros, mais não-substanciais, mais persistentes e mais fiéis permanecem estáveis por longo tempo, como almas, lembrando, esperando, ansiando, dentre as ruínas de todo o resto; carregam inabaláveis, na minúscula e quase impalpável gota de sua essência, a vasta estrutura da memória."

Marcel Proust, Remembrance of Things Past




Foto: capa do livro perfume of memory,
de
Michelle Nikly. Para ver a sinopse, clique aqui

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Bernardo de Guimarães


Nosso amor é tão puro! - antes parece
A nota aérea e vaga
De ignota melodia, êxtase doce,
Perfume que embriaga!...

Amo-te como se ama o albor da aurora,
O claro azul do céu,
O perfume da flor, a luz da estrela,
Da noite o escuro véu.

Bernardo de Guimarães, O Amor Ideal




Foto: Romeo & Juliet, de Franco Zefferelli

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Castro Alves

O Perfume é o invólucro invisível,
Que encerra as formas da mulher bonita.
Bem como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a sultana habita.


Escrínio aveludado onde se guarda
Colar de pedras — a beleza esquiva,
Espécie de crisálida, onde mora
A borboleta dos salões — a Diva.


Alma das flores — quando as flores morrem,
Os perfumes emigram para as belas,
Trocam lábios de virgens — por boninas,
Trocam lírios — por seios de donzelas!


E ali — silfos travessos, traiçoeiros
Voam cantando em lânguido compasso
Ocultos nesses cálices macios
Das covinhas de um rosto ou dum regaço.


Vós, que não entendeis a lenda oculta,
A linguagem mimosa dos aromas,
De Madalena a urna olhais apenas
Como um primor de orientais redomas;


E não vedes que ali na mirra e nardo
Vai toda a crença da Judia loura...
E que o óleo, que lava os pés do Cristo,
É uma reza também da pecadora.


Por mim eu sei que há confidências ternas,
Um poema saudoso, angustiado,
Se uma rosa de há muito emurchecida,
Rola acaso de um livro abandonado.


O espírito talvez dos tempos idos
Desperta ali como invisível nume...
E o poeta murmura suspirando:
"Bem me lembro... era este o seu perfume!"


E que segredo não revela acaso
De uma mulher a predileta essência?
Ora o cheiro é lascivo e provocante!
Ora casto, infantil, como a inocência!


Ora propala os sensuais anseios
D'alcova de Ninon ou Margarida,
Ora o mistério divinal do leito,
Onde sonha Cecília adormecida.


Aqui, na magnólia de Celuta
Lambe a solta madeixa, que se estira.
Unge o bronze do dorso da cabocla,
E o mármore do corpo da Hetaíra.


É que o perfume denuncia o espírito
Que sob as formas feminis palpita...
Pois como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a mulher habita.

Castro Alves, Os perfumes





Foto: Folhas de sândalo no flick Sharma

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O perfume na literatura com Oscar Wilde


"Ele viu que não havia qualquer estado de espírito que não tivesse seu correspondente no mundo dos sentidos, e se pôs a descobrir a verdadeira relação entre eles, imaginando o que haveria no olíbano que fazia com que as pessoas se sentissem místicas, no âmbar cinzento, que mexia com a paixão das pessoas, nas violetas, que despertavam memórias de um romantismo que não existe mais e no almíscar, que perturbava a mente."

Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray


Foto: árvores de olíbano em Oman, uma imagem mítica


O perfume na literatura com Charles Baudelaire

Esta semana é dedicada às referências literárias sobre perfumes e afins. Nada melhor que aliar duas artes sensitivas: a arte dos aromas e a arte das palavras. Perfumaria e literatura, atemporais e universais, em um momento para reflexão e inspiração. Enquanto lê estas palavras, perfume-se! Pode apostar que serão atos poéticos e sensoriais inesquecíveis.

Alguém encontra um frasco, e de uma borrifada
Um espírito, agora renovado e vivo, se derrama.

Mil idéias adormecidas, lúgubres crisálidas

Tremendo nas sombras como jovens borboletas,

Que se põem a voar , as asas enrugadas se abrindo

Em tons de azul, sopros de rosa, e faíscas de dourado.


Charles Baudelaire, " O Frasco"





foto: Frasco de perfume com borboleta ornamentada da Victorias' Jewerlry


sábado, 25 de agosto de 2007

Perfume e Literatura com Clarice Lispector







Nada melhor do que falar de perfumes através da literatura. Simplesmente porque a literatura é a manifestação genuína da alma de um artista que, com palavras e emoções, escolhe a forma de expressar o seu imaginário através de uma função poética. Olhando a realidade ao seu redor, inserindo novos códigos e signos, desabrochando sentimentos múltiplos , criando novas imagens e, com isso, transformando tudo em linguagem subjetiva, bem mais além do palpável da objetividade.
Assim como o perfumista cria sua obra baseada em aromas criativos e intencionais e percepções aguçadas, assim também o escritor cria sua obra baseada em palavras também intencionais, mostrando como sua sensibilidade capta a realidade e a transforma em literatura.
E neste universo literário, a minha querida Clarice Lispector, a principal escritora que me entenderia, entendeu bem mais sobre o ato de perfumar-se, relatando a personagem Lóri em um momento único com o seu perfume (no livro uma aprendizagem ou livros dos prazeres , da Ed. Rocco). Um fragmento brilhante para quem vive se perfumando como eu.
Se por um lado Clarice escreveu tão bem o fragmento a seguir , desvendando a minha própria intimidade ao me perfumar. Por outro lado, assumiu publicamente que muitas vezes
não conseguia descrever algo que sentia, porque era como se fosse uma tentativa de fotografar um perfume, tamanha a impossibilidade. Neste ponto, concordo com ela. Quantas vezes é tão difícil fotografar um perfume, ver além das notas, guardar uma memória olfativa impossível de ser registrada em uma foto . O mesmo ocorre com o sentir algo inexplicável, que se rebela contra nós, dificultando o ato de dar vazão ao que está dentro, escondido ...

No livro uma aprendizagem ou o livro dos prazeres , de Clarice Lispector, nada foi sufocado. Encontrei mais um prazer...a maravilhosa combinação perfume e literatura.






...estava na hora de se vestir: olhou-se ao espelho e só era bonita pelo fato de ser uma mulher: seu corpo era fino e forte, um dos motivos imaginários que faziam com que Ulisses a quisesse; escolheu um vestido de fazenda pesada, apesar do calor, quase sem modelo, o modelo seria o seu próprio corpo mas enfeitar-se era um ritual que a tornava grave: a fazenda já não era um mero tecido, transformava-se em matéria de coisa e era esse estofo que com o seu corpo ela dava corpo — como podia um simples pano ganhar tanto movimento? seus cabelos de manhã lavados e secos ao sol do pequeno terraço estavam de seda castanha mais antiga — bonita? não, mulher: Lóri então pintou cuidadosamente os lábios e os olhos, o que ela fazia, segundo uma colega, muito mal feito, passou perfume na testa e no nascimento dos seios — a terra era perfumada com cheiro de mil folhas e flores esmagadas: Lóri se perfumava e essa era uma das suas imitações do mundo, ela que tanto procurava aprender a vida com o perfume, de algum modo intensificava o que quer que ela era e por isso não podia usar perfumes que a contradiziam: perfurmar-se era de uma sabedoria instintiva, vinda de milênios de mulheres aparentemente passivas aprendendo, e, como toda arte, exigia que ela tivesse um mínimo de conhecimento de si própria: usava um perfume levemente sufocante, gostoso como humus, como se a cabeça deitada esmagasse humus, cujo nome não dizia a nenhuma de suas colegas-professoras: porque ele era seu, era ela, já que para Lóri perfumar-se era um ato secreto e quase religioso.





“Quantidade? Você não é um frasco, é uma pessoa. Você é um anúncio de perfume? Você é apenas perfumada. Não deixe seu perfume entrar numa sala muito antes de você mesma. O perfume deve envolvê-la, não precedê-la.”
(Clarice Lispector, em Correio Feminino, editora Rocco).

Clarice Lispector escreveu sobre beleza e moda, inclusive sobre perfumes na mídia impressa
Sábia como sempre... Amo Clarice Lispector assim como amo perfumes!