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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Un Bois Vanille, Serge Lutens


É impressionante como, à medida que conheço o mundo dos perfumes, fica evidente que algumas criações são exemplos típicos de quão satisfatório é o imprevisível. A imprevisibilidade de conhecer um perfume como Un Bois Vanille, o qual dá um outro tom a uma nota como a baunilha, tão banalizada na perfumaria corporal, só podería ser acessível, no mínimo, através do talento de um artista como Serge Lutens.
Ele é, acima de todos, uma nova estética para a perfumaria. A natureza do belo para Serge Lutens é uma beleza que envolve um tipo de estado de graça; é uma forma de construir fragrâncias dentro de uma visão de arte, nada estereotipada. A revelação fascinante dos aromas Lutensianos desenvolvidos, tecnicamente, pelo nose Christopher Sheldrake através dos conceitos do mestre é um deleite para qualquer nariz. Isso porque força uma nova atitude de encarar o perfume como uma obra prima, que pode causar muita dissonância se comparado aos perfumes"fast food" que são lançados no mercado. Em Lutens este é um termo inexistente, não por ser perfumes de nicho mas por que não é o estilo de seu idealizador.
Um olhar estético sobre sua arte perfumística me remete à idéia de uma orquestra, cuja sinfonia é capaz de gerar diferentes emoções, ora dramáticas, ora cômicas, por exemplo. Contemplar sua obra é emocionar-se com os acordes das notas e as sensações imprevisíveis que elas podem causar. Serge Lutens é um maestro dos aromas. As notas de seus perfumes serão regidas de tal forma que a sinfonia olfativa terá uma nova interpretação a cada nuance. Assim é o desenvolvimento dos perfumes de Serge Lutens, um novo paradigma e , logo depois, outro. Novas imagens estéticas que se fundamentam pelo estranhamento, pela descoberta de novos sentidos, pela negação de uma opinião alienada sobre perfumes.
Levando em conta esta nova possibilidade de ver o perfume como uma autêntica arte, exemplifico-lhes que a baunilha de Un Bois Vanille não tem o apelo da baunilha de nenhum outro perfume. O meio no qual ela se desenvolve, atuando com outras notas, não permite um paradigma de massa, como a baunilha de consumo; porque a beleza na qual Un Bois Vanille está inserido não é a beleza da mulher que tem que ser sexy e usar, para isso, um perfume que lhe atribui um poder só afrodísiaco, carnal, sexual. Definitivamente, a baunilha aqui não serve a mulher em um prato apetitoso.




Hernán Cortés

O perfume foi lançado em 2003 e tem notas de leite de côco, baunilha absoluta do México, cera de abelha, benzoin caramelizado, alcaçuz, marzipã, madeira de gaiac , tonka, sândalo. O que confere a típica beleza Lutensiana à fragrância é a ação destas notas com a dark vanilla absoluta , que é nota foco deste especial " eu amo baunilha", tornando-a tão distinta. As notas de saída abrem um aroma mais caramelizado e licoroso que abaunilhado, gerando uma expectativa muito peculiar ( e natural) de qual tipo de baunilha é a de Serge Lutens, a baunilha cuja inspiração vem de um tipo de bebida mexicana tomada por Hernán Cortés, conquistador espanhol em expedição em Texcoco no reino Asteca . Os primeiros acordes são como um mix de um caramelo recém preparado, saído do fogo que é, instantaneamente, adicionado em um taça de licor com pouca quantidade de leite de côco. O início é bem doce, influência da raiz escura e doce de alcaçuz, do marzipã e do benzoin. A pele se aquece tão rápido como se uma dose da bebida tivesse sido tomada em um único gole para aquecer o corpo. A sensação é de que a nota de coconut milk está lá, embora não seja tão nítida como a de marzipã, por exemplo, que atua no perfume remetendo-me a imagem de amêndoas mergulhadas em uma bebida alcóolica. Posteriormente, bem mais posteriormente, a baunilha toma frente como nota do drydown, que é a base do perfume, juntamente com notas mais aguadas e amadeiradas, caracterizando a fragrância como um abaunilhado mais adulto e discreto. Este processo de drydown demora bem mais do que convencional esperado por um perfume de nome Un Bois Vanille e, como tudo que é imprevisível, a baunilha faz jus ao que chamam de vanille boisée, em francês. A grosso modo, uma baunilha vegetal que remete a campos arbóreos; por isso o perfume assume um aroma bem mais próximo à natureza , com um baunilha que é impactada pela presença das notas de madeira de gaiac e , principalmente, o sândalo, mais familiar ao meu nariz.
Um desenvolvimento de notas bem interessante, resultado de uma estética que tem esta intenção: conceber idéias através de um conhecimento de mundo, como foi o caso de uma baunilha de origem mexicana e, com isso, converter estas idéias em um perfume inimitável como toda verdadeira obra de arte. Imperdível se você admira a oitava arte, a de Lutens.



Para conhecer mais sobre Serge Lutens, leia o histórico do fórum autourdeserge.alloforum.com
Fotos: Serge Lutens Site e Wikipedia.org

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