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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Fleurs D´oranger, Serge Lutens


A laranjeira é uma das fontes de matérias fragrantes mais versáteis na perfumaria e uma das mais potentes em termos de aproveitamento da planta. O aroma vem da casca da fruta, das folhas e das flores. Entre todas as plantas, ela tem o dom divino de fornecer quatro óleos especiais para a perfumaria. O petitgrain que vem das folhas e dos galhos, a laranja que vem da casca da fruta e o néroli e flor de laranjeira que vem das flores. É um planta abençoada pela mãe natureza.
Serge Lutens lançou Fleurs D´oranger, o floral oriental inspirado na riqueza das flores de laranjeira e, primordialmente, agregou a beleza destas flores e seu poder olfativo. A criatividade e sensibilidade com relação à natureza é o ponto de destaque do perfumista neste perfume. Agregar as nuances olfativas da flor de laranjeira, dividindo as camadas do perfume em notas de néroli e flor de laranjeira como notas de cabeça e também coração, unindo esta flor a outras flores como jasmin branco, tuberosa da índia e rosa branca sem perder o fio do mistério da laranjeira é compor uma obra prima bucólica através dos aromas.
A saída da fragrância resgata os conceitos de seiva e mistério da alquimia. A seiva que é a matéria bruta e física desperta os sentidos dos aromas "palpáveis". Fica evidente a presença de néroli, com flor de laranjeira e um pouco de jasmin. O mistério é dado pela qualidade do aroma, a virtuosidade de trazer à memória olfativa a autenticidade do físico que se quer representar. O aroma inicial é apimentado como o néroli, lembrando a nota de cominho e os sabores de pratos do campo. Embora peppery no começo, as flores suavizam o perfume e o perfume tem uma característica andrógina, exatamente como se imagina uma flor de laranjeira: um lado feminino, mas uma característica de ambos os sexos, muito em função das nuances florais e apimentadas que se mesclam.







Fleurs D´oranger é fresco, mas não o fresco cítrico da fruta laranja. Cítrico é algo que não se encontra aqui. Nada de citrus, bergamota e afins. O fresco nesta fragrância tem o frescor dos campos, do vento que bate no rosto em uma tarde bucólica, da leveza das paisagens que se tornam mais longíquas com um olhar contemplativo, da delicadeza e da magia das brincadeiras infantis em lugares interioranos. As imagens que se vêem são de uma família campesina. O pai, um artesão de perfumes que mescla aromas e sabores, a mãe que cozinha em panelas de barro, filho e filha que brincam juntos e retomam o caratér andrógino da fragrância, apimentado para meninos, floral para meninas. Tudo é bucolismo em Fleurs D´oranger.
O perfume é razoavelmente orientalizado devido à presença do néroli, que mesmo suavizado nas notas de coração, tem uma tenacidade incrível. A tenacidade é a capacidade da nota permanecer na pele antes de volatizar por completo. No caso do Néroli, um clássico versátil na perfumaria, a versatilidade também aparece em vários momentos de Fleurs D´oranger. Ela começa bem picante, posteriormente cede o desenvolvimento olfativo às flores, mas sempre presente como nota média. A tuberosa aqui é uma tuberosa muito diferenciada, inédita ao meu olfato mas capaz de ser reconhecida pois ela preserva um equilíbrio aromático, balanceando a atuação do jasmin. Há momentos que o jasmin sobe à superfície da pele, no entanto é mesclado à tuberosa penetrante, timidamente quente e que preserva o frescor e o veludo do floral.
As propriedades terapêuticas da flor de laranjeira são mantidas, visto que o perfume é uma fragrância relaxante e tênue. Ao sentí-lo na pele, a vontade que se tem é correr calmamente por um campo bucólico, correr de encontro à natureza e, em um ato de entrega, cheirar uma flor de laranjeira.






Foto Fleur d´oranger, Serge Lutens
Foto "Neroli" by aromatherpay.meetup.com
Foto: Bucolismo, Fonte tripodi imagens

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