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domingo, 2 de setembro de 2007

Iris Poudre, Frédéric Malle


Quem conhece meus gostos perfumísticos sabe que sou um ser em constante transformação. Vivo uma metamorfose com um razoável ecletismo com relação a perfurmes, embora confesse de coração aberto e joelhos no chão que sou uma mulher floral oriental com uma considerável inclinação aos florais amadeirados e aos orientais abaunilhados.
Não nego que minha coleção reflita uma história pessoal com algumas famílias olfativas e estados de espírito que também se agregam à minha personalidade como os florais frutais, joviais e românticos e os orientais especiados, maduros e sensuais os quais repaginam uma nova mulher em mim, dependendo do momento. No entanto, nesta história com perfumes, algo é um fato raro: Sou uma mulher que não tolera os florais muito luminosos, os chamados aldeídicos. A nota de aldeído é considerada um clássico na perfumaria fina e tem um efeito cintilante na nota de saída. Com exceção do meu Dolce & Gabanna feminino, único exemplar floral aldeídico na minha coleção e com o qual vivo uma relação quase de divórcio (o qual espero que não seja litigioso), eu conservo um afastamento total desta família olfativa.
Fiz um 'refresh' sobre meus gostos perfumísticos justamente para ilustrar que neste mundo de aromas nem tudo é "oito ou oitenta", como dizem por aí.Sempre pode haver uma escala trinta e seis, que é o ponto intermediário no qual se "paga com a língua" e que o perfume, inicialmente assustador para as narinas, se converte em uma adorável surpresa. Este foi o caso de Iris Poudre, da marca de nichia Frédéric Malle.
Conhecer Iris Poudre fez parte de um desafio olfativo. Um desafio que exigiu tolerância para provar um floral aldeídico com narinas bem abertas antes de julgá-lo; e foi nesta nova experiência que eu fui surpreendida com o velho e o novo de experimentar uma fragrância, com direito a perfumes "fantasmas" como coadjuvantes.
Perfumes amados ou odiados surgiram nesta minha viagem aromática com Iris Poudre, tais como Chanel nº 5 (Chanel), Lou Lou ( Cacharel), Dolce & Gabbana feminino(D&G) e até a última decepção de Frédéric Malle, o Fleur de Cassie. Todos assombraram minhas narinas, embora não de um modo tão negativo como esperava. Se por um lado, os clássicos aldeídicos apareceram, por outro lado, a fragrância criada pelo perfumista Pierre Bourdon quebrou o meu próprio paradigma de que se tem aldeído, fuja.
O perfume se mostrou um aldeído escancarado na saída com notas clássicas desta família ( aldeído, magnólia, etc.), mas ao acentuar-se na pele, mostrou uma nova faceta. Um agradável perfume , minimamente atalcado com notas de iris mais cremosas em uma base também abaunilhada e ambarada. Um perfume que me fez relacioná-lo ao perfume de uma diva retrô mais exuberante como Marilyn Monroe, o próprio ícone feminino que adorava umas gotas de Chanel nº 5 antes de dormir. Hoje ela usaria Iris Poudre como uma Marilyn repaginada.





As primeiras notas da fragrância têm a luminosidade clássica das notas de aldeído do Chanel nº 05, muito em função das acentuadas nuances de ylang-ylang e, posteriormente, da Iris. Neste momento, pensei que estivesse em um camarin hollywoodiano me arrumando para uma nova cena ou em um quarto bem vintage, penteando meus cabelos e colocando algumas gotas do perfume como a própria Marilyn o fazia. Senti que havia borrifado o próprio n° 5 de Chanel. À medida que as notas de saída deixaram a primeira impressão, percebi que algo me lembrava o D&G feminino, um pouco menos abrasivo; era como se emprestasse à Iris Poudre suas notas de cravo e muguet, seus pontos em comum. Flores como magnólia e jasmim, embora mais sufocadas pelo aldeído e a Iris acabavam dando um aspecto mais feminino e floral à fragrância.
Antes da base se estabilizar, percebi uma transição que me lembrou o Lou Lou, um dos perfumes que mais odeio. Não era um Lou Lou tão repugnante. Era uma Iris mais abaunilhada, mais suave, chique e perseguida por uma base que traria a sensação mais surpreendente e diferenciada , a de um leve atalcado mesclado com um ambarino e a delicadeza da iris, bem mais sofisticada. O fundo do perfume tornou-se aconchegante e intimista. Tão intimista que dormiu comigo esta noite, assim como Chanel nº 05 com a diva eternizada.
Conclui que Iris Poudre é um Chanel nº 05 para Marilyns Monroe modernas, preferencialmente entre lençois.




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