"Não percebes? O seu perfume está no ar! Está na alma... Ó divina beleza, ó maravilha!" Estas palavras são de Calaf , personagem da última ópera de Puccini, Turandot. Ele é o princípe desconhecido, filho de Timur,rei tártaro. Calaf fala sobre o perfume, o perfume da princesa Turandot e, imediatamente se apaixona por aquela figura amarga, que odeia os homens, mas que consegue exalar o perfume que desperta o amor de Calaf.
O perfume está presente nas óperas porque ele expressa sentimentos; porque é uma personagem que acompanha o cenário e a respiração acalorada da soprano, do tenor, barítono e baixo; porque acompanha a orquesta com uma combinação atrativa, porque suas notas podem soar tão esplendidamente como as notas de uma ópera. Até a maison Guerlain inspirou-se na ópera para criação de Liu, fragrância homônima da personagem Liu da ópera Turandot. Perfume e ópera, notas no ar.
Os aromas são tão fascinantes como o drama poético e musicalizado, por isso me emocionam quando ouço uma ópera. É como se houvesse uma convergência entre dois sentidos, o olfato, a audição... muitas notas no ar, notas da música, notas da fragrância. Mesmo quando a presença do perfume não se faz, ali está uma fragrância especial, o perfume da ópera... o perfume das emoções de cada personagem.
Isso me faz lembrar a ópera Madame Butterfly (também de Puccini, meu compositor erudito preferido), talvez a obra que eu conheça que mais apresenta perfumes como coadjuvantes no drama da gueixa Cio-Cio-San (a Borboleta da ópera) sufocada por uma paixão arrebatadora por Pinkerton, um oficial da marinha americana. Enquanto Butterfly canta seu hino de amor à ele, a ópera ambientaliza um cenário do Japão antigo, virgem, praticamente inexplorado, que tinha o seu perfume exclusivo, o perfume oriental, tão delicado como as borboletas que pousam sobre as flores.
Além do cenário, a música tem cheiro. Cheiro de sofrimento, de amor, de tristeza, de esperança... Cheiro de tantas emoções em tantas intensidades. Esses cheiros variam dentro desta arte poética, ora são notas agudas, ora notas graves e, chega uma hora, que música e aroma são uma única coisa, capaz de me levar a uma catarse, como diz Aristóteles, uma descarga das minhas emoções, que purifica minha alma.
Existem vários momentos em Madame Butterfly que são um caminho para esta catarse e todos elês tem um perfume. Em um deles, Cio-Cio-San vê seu amado oficial partir e, com a esperança de que ele retorne, começa a reunir flores de cerejeiras para enfeitar o lugar de Pinkerton. O perfume daquelas flores era uma forma de tê-lo por perto. Mas o momento mais marcante, perfumisticamente falando, é na ária Un bel di, vendremo (um belo dia nos veremos), quando Butterfly ainda tem esperança de revê-lo após 3 anos, com o navio que um dia chegará. Imaginando o reencontro entre os dois e a fala carinhosa de seu amado, Butterfly canta "Chiamerà, chiamerà: "Piccina - mogliettina Olezzo di verbena" Il nomi che mi dava al suo venire". ("Me chamará, chamará : "pequenina, minha pequena esposa, perfume de verbena" os nomes que ele me chamaria ao chegar"...
Sinta o aroma da verbena no ar, na voz de Maria Callas. Ária Un bel di, vendremo.
Maria Callas: Usava Chanel, YSL , Dior e Chloe.
Ainda penso nela como "Soprano Chanel".
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