domingo, 16 de setembro de 2007
Trouble EDP, Boucheron
Mulheres que usam Trouble como um perfume que expressa sua marca são mulheres 'trouble', no sentido quase real da palavra, mas não pejorativo.
Entendo Trouble como um perfume para mulheres complexas, que não são tão desvendáveis como solucionar um mero problema. A sua complexidade está relacionada a ser um 'Trouble' . Mulheres que se dividem na dualidade de ser intrigante e misteriosa e, ao mesmo tempo, franca e clara. É desta forma que vejo o perfume, criado por Jacques Cavallier, o mesmo criador de Cinèma de Yves Saint Laurent, perfume com o qual Trouble estabelece algumas nuances compartilhadas nas notas de jasmine sambac, amber e baunilha, que identificam que o perfumista estabeleceu, consciente ou não, uma semelhança de aromas entre eles.
Ao contrário de uma boa parte de mulheres adeptas e simpatizantes do perfume, eu não vejo Trouble como um perfume extravagante,o famoso 'arrasa-quarteirão', pelo menos não em cem por cento do termo, mesmo sendo um perfume parte de minha coleção. De fato, ele é exuberante na elaboração da base quente e sensual, com um fundo ambarino doce; no entanto a dualidade do perfume está relacionada à sua capacidade de também ser um perfume com evolução intimista e com jogos de contrastes entre a evidência de nuances cítricas, expondo seu lado claro e a toxicidade pertubadora de notas quentes, expondo seu lado enigmático. Eis a questão dúbia da personalidade deste clássico de Boucheron.
As notas de saída sinalizam a presença de limão na composição, de forma imediata. Esta citricidade evidencia o início da ação desta dualidade, pois o limão não é luminoso como uma nota de verão. Pelo contrário, ele atua
paralelamente com um corpo floral quente, ora permanecendo mais oculto, ora vibrando o cítrico da fragrância. Nota-se depois que o jasmine sambac, encabeçado como nota de coração tem a influência de uma nota rara, vibrante e que parece envenenar o perfume, o foxglove, trazendo à minha lembrança o aspecto sensual do perfume e, ao mesmo tempo, intimista. Neste momento, sinto - me dividida entre a hesitação de ser provocativa e fazer-se notar por todos e ser impenetrável, sigilosa e reservada. O calor de Trobule age como um veneno, pronto para entorpecer-me ou excitar-me. O efeito narcótico da composição abre espaço para um tipo de "alucinação olfativa", na qual percebo discretas notas mentoladas que agem com as abaunilhadas e ambarinas, com o intuito de selar o jogo de opostos. Depois de um período, é possível ver uma base amber abaunilhada, com discreto jasmine sambac, sempre constante. Quente e confortável, não menos sensual e sofisticado. Característica que o aproxima de Cinèma, na minha opinião.
Trouble é um perfume fascinante quando avaliado sob este ponto de vista, o da dualidade. Este conceito do dual me inspira a identificá-lo como um perfume para uma mulher flamenca. Não só pela imagem do frasco vermelho com a cor do sangue quente que circula nas veias e o coração efervescente e inquieto de uma flamenca, mas pela personalidade desta mulher, ao mesmo tempo, tão exacerbante e tão íntima com seus sentimentos e sua arte. Ter este duende, que é o espírito poderoso de ser flamenco, pertubador e apaziguador, de explosão das emoções fascinantes após um momento só seu. O flamenco se move por esta dualidade que é tão evidente e tão obscura, tão reflexiva e tão convulsiva, tão discreta e tão exuberante. A mulher que é eternamente elegante, feminina e complexa, assim como Trouble.
Fotos: Trouble Boucheron
Fotos: Flamenco dancers do maravilhoso pintor Fabian Perez. Visite sua web aqui
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