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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Perfume e cinema: Scent of a woman

"Mulheres! O que se pode dizer? Quem as fez? Deus deve ter sido um super gênio. O cabelo... Dizem que o cabelo é tudo, você sabe. Você já enterrou seu nariz em uma montanha de cachos... eu queria só adormecer lá para sempre"
Quem não se lembra das palavras do tenente-coronel cego, Frank Slade, representado de forma magnífica pelo ator Al Pacino no filme Perfume de mulher (Scent of a woman, 1992) tem que rever este clássico que ainda leva nome de perfume para as telas. Muito além de frases que ficaram eternizadas na história do cinema, o filme ambienta uma reflexão de que "em um momento se vive a vida" e se perfumes são também momentos, eu lhes afirmo: "em um perfume se vive a vida", principalmente quando lembro as cenas em que Al Pacino com sua narina aguçada identifica os perfumes que vestem as mulheres. Momentos marcantes para a minha vida, ao menos, a vida de cinéfila e perfumista.
O título do filme parece englobar só perfumes, mas não é a base do filme.Talvez seja por isso que o filme consegue ser tão esplêndido através de pequenos momentos relacionados ao perfume de uma mulher.
O enredo traz o viver novos e intensos momentos em um final de semana antes de querer dar fim à própria vida. É o que faz o coronel acompanhado por Charlie Simms (interpretado pelo ator Chris O'Donnell) , o qual é contratado para estar com Frank nesta viagem inesquecível. Esta viagem é como um caminho que me desafia a uma leitura de que um homem cego e amargo do pós guerra, mesmo que temperamental e ferido, consegue mostrar o tão cômico, sensível e admirável pode ser. Palavras como as do início " colocar o nariz e sentir os cabelos de uma mulher" é o que me emociona e que, indiretamente, relaciono com o perfume e como ele desperta sensações em uma pessoa cega. Não é necessário olhar a pessoa, basta sentir a sua fragrância. Sentir os cabelos não é sentir só a textura, imaginar a cor e o brilho, mas sentir também o seu aroma. Uma bonita imagem sensorial para qualquer deleite.
É justamente sobre o desenvolvimento do olfato e da própria sensibilidade de Frank Slade que faço minha leitura sobre este filme. Aparentemente ele é um homem arrogante e durão, no entanto as suas máscaras caem no desenrolar do filme. Na verdade, ele mostra que desenvolveu outros sentidos muito mais apurados que uma pessoa não cega. Aí está o encanto de perfume de mulher, o ser que é sensitivo mesmo quando há uma deficiência, mesmo com um passado de guerra e um presente de solidão.
Ele vive intensamente cada momento, como dirigir uma Ferrari, dançar um tango, ter uma noite de amor. São habilidades "sensoriais" físicas mas também da alma. Ele tem um lado espirituoso, mesmo que debochado e galanteador e é esta alma que envolve as próprias mulheres ao terem seus perfumes reconhecidos e elogiados. A reação delas é sempre de surpresa. Aquela inusitada surpresa que logo se transforma em uma deliciosa sensação de ser especial, de ter o seu perfume reconhecido em sua pele e, o melhor, reconhecido por um homem.
Perfumes que nem precisam ser sentidos "ao vivo" para evoluírem de um lado ao outro da tela de cinema. Floris era um deles. Quando Charlie e o Coronel embarcaram para New York, lá estava a fragrância Floris na pele da aeromoça Daphne. Flowers from a Brook era o perfume de Ms Downes, aquela mulher da escola que fica encantada com o discurso brilhante do coronel e corre para cumprimentá-lo. De cara, após ele ter dito o perfume de Ms. Downes, há um clima de um possível reencontro...talvez uma chance para o amor.
Até Fleurs de Rocaille, o bouquet floral e vintage da boutique Caron perfumou o filme na trilha sonora , assim como o tango de Astor Piazzolla tinha o perfume de Donna, a personagem da atriz Gabrielle Anwar que dança com Al Pacino um dos tangos mais memoráveis da história do cinema.
Aqui, a sétima arte tem o perfume de uma mulher.





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