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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Quando um fã ama um perfumista...

Foto Serge Lutens em entrevista para a Osmoz Francesa.

Quando um fã ama um perfumista, entenda-se "um(a) fã apaixonado(a) por perfumes específicos de um perfumista ou maison", não há limites para as peripécias de um(a) tiete, principalmente as peripécias que quebram as barreiras
entre o consumidor e quem criou o objeto de consumo, seja o perfumista, a casa de perfumes e até mesmo qualquer staff relacionado a eles. Eu quebrei esta barreira e hoje eu recebi um agradecimento muito especial vindo da maison que está por trás de Serge Lutens, o Palais Salon du Palais Royal Shiseido.

Há um tempo eu pensava em escrever minha declaração de amor a Serge Lutens, eu juro (risos) que sim e, principalmente, fazer isso chegar a ele. Eu nunca tinha tido vontade de ser tão tiete a tal ponto, mas eu fui. Na verdade, eu nunca fui um tipo de garota fã a ponto de tietar artistas e personalidades em geral, mas na fase madura, após cheirar tantos perfumes de Lutens, conclui que tive uma overdose que me fez viajar (risos)... e esta overdose me levou à ação.
Havia uma necessidade de expressar o que ele fez pela perfumaria mundial, a minha admiração pelo seu estilo diferenciado de pensar perfumes, de pensar a vida por trás dos aromas e também de dizer que o seu nose Christopher Sheldrake era um talento capaz de traduzir este trabalho fabuloso da perfumaria. Enfim, este dia chegou...
O dia foi 06 de novembro deste ano, data próxima à idéia de criar cinco ou seis posts sobre o Mr. Serge Lutens foi o dia que a tiete aqui escreveu para o poeta dos perfumes. As palavras foram especiais , principalmente embutidas de uma gratidão típica de apaixonados por perfumes quando querem fazer chegar ao criador de seus perfumes a sua mais genuína admiração. Minha declaração mencionou que estamos fazendo uma família Lutensiana no Brasil como muitos já conhecem seus perfumes e isso foi para dizer que nós também usamos Serge Lutens (risos). Eu o fiz e fui muito bem recebida, por isso, tive o prazer de escrever um post só para dividir a alegria de que , por mais que exaltemos um perfumista ou uma maison, eles nunca são inacessíveis. Alguns podem não responder emails nem telefonemas como dito por muitos colegas deste networking perfumístico e situações as quais eu também não tive resposta, mas sempre haverá um dentre eles que irá surpreender o consumidor com um gesto carinhoso de receptividade e agradecimento.
Minha declaração de amor a Serge Lutens não chegou ainda a ele, pois ele mora no Oriente e algumas vezes viaja à Paris, no entanto, o gesto gentil de resposta veio hoje dia 14 de Novembro, oito dias após minha ousadia (risos), resposta transmitida através da diretoria do
Palais Salon du Palais Royal Shiseido e também da própria assistente do Serge Lutens (trés chic, por sinal), ambos agradeceram o imenso carinho pelo universo Lutensiano e pela Shiseido e, claro, a assistente diz que fará chegar pessoalmente a ele minha mensagem quando ele vir à Paris, afirmando que ele é atencioso e muito grato a todos os seus admiradores e que apreciou muito o meu gesto dócil de expressar a admiração pelo talentoso Lutens.
Se a mensagem chegará ou não a ele, só Deus sabe, mas honro atitudes como esta que valorizam nós, consumidores de perfumes, por isso já estou muito satisfeita. Melhor que isso será se Mr. Serge Lutens me enviar um autográfo ou uma declaração de amor por email (risos). Quem sabe um pedido de contratação ou um cônteiner de perfumes hahaha... acho que meu coração não aguentaria!

Como já devem ter percebido, o especial o fabuloso mundo de Serge Lutens acabou no fim de semana, mas continuem acessando o meu blog para novidades e mais especiais non stop por 4 ou 5 dias com determinado foco. Ainda tem muitas sensações perfumísticas, sejam Lutensianas ou não. Conto com sua leitura!

Um abraço,
Cris Rosa Negra


Para comprar perfumes Serge Lutens, acesse o site do Salons Shiseido
e peça demais informações. O Salons vende os perfumes (fisicamente), não enviam para o exterior.
Disponíveis em lojas online * como
luckyscent.com
lamurefavorite.com
aedes.com
Nos USA, em lojas como
Barneys, Bergdorf Goodman, algumas Neiman Marcus store
Amostras (samples) disponíveis no Perfumedcourt
* Sujeito à confirmação de envio para o Brasil



Fonte : Foto Serge Lutens para entrevista francesa na Osmoz.Fr
Clique no link acima da Osmoz para conferir a entrevista francesa.

domingo, 11 de novembro de 2007

Clair de Musc, Serge Lutens


Quando olhamos um frasco de perfume, não visualizamos somente a embalagem,o formato, os detalhes, as cores; vemos além do frasco. Olhamos o líquido, a coloração, o aroma, a textura. Depois supomos como é o seu comportamento na pele, as sensações que ele despertará em nossos sentidos, suas virtudes e defeitos e, finalmente, imaginamos como será a alma desta fragrância, o seu mistério, a sua riqueza.Clair de Musc , como o próprio nome diz, fez-me pensar na transparência do almíscar, nota que é a alma do perfume. Como toda alma, esta nota olfativa tem o peso de um cristal que reflete o seu brilho na pele, assim como a alma que brilha e se eleva na escuridão.
A coloração do líquido não é tão clara, mas os acordes são límpidos e ricos na própria simplicidade. O perfume têm como notas principais o almíscar vegetal, o almíscar atalcado ( também conhecido com pudriger Moschus, em Alemão ou Musc Poudré, em Francês), Bergamota, Néroli, Jasmin, Íris de Toscana, Santal de Mysore e grãos de ambreta. Uma variedade de notas que enriquecem um aroma transparente em sua totalidade; notas que dialogam entre si e se complementam.
A saída de Clair de Musc é delicadamente atalcada pela ação do almíscar poudré e da Íris. Este efeito é protagonista na ação olfativa inicial, no entanto nota-se que não é qualquer classe de powdery. É um atalcado refrescante, influenciado pela ação coadjuvante da bergamota que, embora nada cítrica, nada padrão, traz a sensação do dia e todas a claridade, do frescor poudré refinado, da pele irradiando os raios do sol.
À medida que o perfume evolue, o tênue atalcado mescla undertones com as notas florais. Neste caso, mais jasmin e menos néroli. O jasmin discreto segura a base floral do perfume e, de forma muito interessante, não invade a ação do almíscar poudré pois é um jasmin que se junta ao abstracionismo do perfume. Ele está lá mas atua como o recorte de um cristal, aquele no qual se olha para uma face e se vê o reflexo de outro recorte e assim por diante. O néroli , conhecido pela sua ação mais especiada, acaba assumindo um outro papel nesta fragrância etérea. O papel frustrado de trazer o perfume ao terreno. O especiado é quase nulo, somente perceptível se aspirado bem próximo à pele e, mesmo assim, sem grande ação. A beleza da ação do néroli é afirmar que o caráter espiritual da fragrância é o grande diferencial da Clair de Musc; um caráter intocável, uma beleza angelical que não pode ser terrena ; uma beleza que valoriza o almíscar branco e outros subgêneros de notas do próprio almíscar como o poudré e as sementes de ambreta, que é uma planta musk.
Em Clair de Musc não há espaço para o perfume-corpo, que sendo animálico e provocante o liga à terra. Aqui, o que fascina é a pureza da alma do perfume que o une a algo superior, abstrato e luminoso. É como vestir um tecido de chiffon branco esvoaçante ou um leve tecido transparente, fechar os olhos e imaginar-se nas nuvens tocando as mãos de Deus.




Foto: Clair de Musc, Site Serge Lutens Shiseido
The Creation of Adam (detalhe) , fonte: Global Gallery

sábado, 10 de novembro de 2007

Vétiver Oriental, Serge Lutens



Único, encantador e afável. Estas são as virtudes relacionadas a Vétiver Oriental, a composição misteriosa, insinuante e ardente que concebe o vétiver como nota principal, enfeitiçada por uma íris, suavemente doce e sempre envolvida pela base amadeirada, cercada de delícias aromáticas resinosas que o ligam ao luxo terreno e ao comforto do corpo, da mente e da alma.
De todos os perfumes Serge Lutens,
Vétiver oriental é o que estabelece uma relação interessante entre a orientalidade da vivência de Serge Lutens nos Marrocos e as influências odoríferas tradicionais das madeiras e/ou resinas como vétiver, almíscar, sândalo, entre outras tão próximas a uma pungência mais "earthy" e sultana, característica dos aromas de grandes reis orientais e a ocidentalidade dos locais luxuosos e cosmopolitas nos quais Serge Lutens orientou sua carreira, locais que são celeiros de homens urbanos, conectados à tecnologia e todas as tendências futuristas.
Vétiver oriental estabelece um equilíbrio aromático oriental e ocidental, unindo o tradicional e o moderno e, fincado nesta relação, traz um aroma cativante do homem refinado, multicultural e vanguardista
, assim como Serge Lutens é. Isso se dá porque o perfume é um oriental que mescla tão bem elementos resinosos, amadeirados e ambarinos criando uma referência oriental para o perfume e a origem das notas olfativas. Encontra-se o aromático vétiver (indiano), o sensual âmbar (árabe) e os multiorientais como os resinosos musgo e ládano, os amadeirados sândalo e madeira de gaiac e o clássico almíscar. Uma mistura luxuosa e feita na medida certa para não ofegar a pele com a pungência exaustiva das madeiras. Esta medida certa para o mix olfativo só é possível porque estas notas fundem-se com a moderna e elegante íris que, não tão comum em perfumes masculinos, aromatiza o perfume em todos os momentos com o também vétiver e uma nota imaginária "amadeirada abaunilhada" que faz a intersecção entre a íris e as madeiras. Embora esta composição tenha chocolate na nota de coração, esta nota não é nada evidente na minha experiência olfativa, tanto que penso que é dispensável no mix.
Nesta criação Lutensiana, o Vétiver não é verde, ácido e refrescante como outros clássicos da perfumaria mas também não é pungente como um óleo natural de Khus; pelo contrário, é um vétiver extremamente encorpado para o comforto, leve e quente para cobrir a pele com requinte antes que esta mesma pele seja coberta por um roupa tão elegante quanto o perfume. Eu relaciono Vétiver Oriental a algumas nuances olfativas como o doce amadeirado aromático de Le Baiser du Dragon (Cartier) que interage com Vétiver oriental em notas como o almíscar, íris e o próprio vétiver, além de dialogarem no quesito elegância. Também o relaciono com Ambre Sultan (Serge Lutens) nos aspectos dos aromas resinosos e nas imagens sultanas geradas por ambos, em diferentes níveis de peso.
Embora o perfume seja compartilhável entre os sexos, cheguei à conclusão que Vétiver Oriental é perfeito no sexo masculino, contanto que a mulher que esteja ao lado deste homem use o Le Baiser du Dragon EDP de Cartier. Um casal perfeito de fragrâncias para um casal de bom gosto, igualmente perfeito.


Nota de íris em Vétiver oriental... Ela está sempre "visível" olfativamente
assim como a íris dos olhos de todos nós.


Foto: Serge Lutens Vétiver Oriental
Foto: Íris dos olhos, fonte Wikipédia

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Fleurs D´oranger, Serge Lutens


A laranjeira é uma das fontes de matérias fragrantes mais versáteis na perfumaria e uma das mais potentes em termos de aproveitamento da planta. O aroma vem da casca da fruta, das folhas e das flores. Entre todas as plantas, ela tem o dom divino de fornecer quatro óleos especiais para a perfumaria. O petitgrain que vem das folhas e dos galhos, a laranja que vem da casca da fruta e o néroli e flor de laranjeira que vem das flores. É um planta abençoada pela mãe natureza.
Serge Lutens lançou Fleurs D´oranger, o floral oriental inspirado na riqueza das flores de laranjeira e, primordialmente, agregou a beleza destas flores e seu poder olfativo. A criatividade e sensibilidade com relação à natureza é o ponto de destaque do perfumista neste perfume. Agregar as nuances olfativas da flor de laranjeira, dividindo as camadas do perfume em notas de néroli e flor de laranjeira como notas de cabeça e também coração, unindo esta flor a outras flores como jasmin branco, tuberosa da índia e rosa branca sem perder o fio do mistério da laranjeira é compor uma obra prima bucólica através dos aromas.
A saída da fragrância resgata os conceitos de seiva e mistério da alquimia. A seiva que é a matéria bruta e física desperta os sentidos dos aromas "palpáveis". Fica evidente a presença de néroli, com flor de laranjeira e um pouco de jasmin. O mistério é dado pela qualidade do aroma, a virtuosidade de trazer à memória olfativa a autenticidade do físico que se quer representar. O aroma inicial é apimentado como o néroli, lembrando a nota de cominho e os sabores de pratos do campo. Embora peppery no começo, as flores suavizam o perfume e o perfume tem uma característica andrógina, exatamente como se imagina uma flor de laranjeira: um lado feminino, mas uma característica de ambos os sexos, muito em função das nuances florais e apimentadas que se mesclam.







Fleurs D´oranger é fresco, mas não o fresco cítrico da fruta laranja. Cítrico é algo que não se encontra aqui. Nada de citrus, bergamota e afins. O fresco nesta fragrância tem o frescor dos campos, do vento que bate no rosto em uma tarde bucólica, da leveza das paisagens que se tornam mais longíquas com um olhar contemplativo, da delicadeza e da magia das brincadeiras infantis em lugares interioranos. As imagens que se vêem são de uma família campesina. O pai, um artesão de perfumes que mescla aromas e sabores, a mãe que cozinha em panelas de barro, filho e filha que brincam juntos e retomam o caratér andrógino da fragrância, apimentado para meninos, floral para meninas. Tudo é bucolismo em Fleurs D´oranger.
O perfume é razoavelmente orientalizado devido à presença do néroli, que mesmo suavizado nas notas de coração, tem uma tenacidade incrível. A tenacidade é a capacidade da nota permanecer na pele antes de volatizar por completo. No caso do Néroli, um clássico versátil na perfumaria, a versatilidade também aparece em vários momentos de Fleurs D´oranger. Ela começa bem picante, posteriormente cede o desenvolvimento olfativo às flores, mas sempre presente como nota média. A tuberosa aqui é uma tuberosa muito diferenciada, inédita ao meu olfato mas capaz de ser reconhecida pois ela preserva um equilíbrio aromático, balanceando a atuação do jasmin. Há momentos que o jasmin sobe à superfície da pele, no entanto é mesclado à tuberosa penetrante, timidamente quente e que preserva o frescor e o veludo do floral.
As propriedades terapêuticas da flor de laranjeira são mantidas, visto que o perfume é uma fragrância relaxante e tênue. Ao sentí-lo na pele, a vontade que se tem é correr calmamente por um campo bucólico, correr de encontro à natureza e, em um ato de entrega, cheirar uma flor de laranjeira.






Foto Fleur d´oranger, Serge Lutens
Foto "Neroli" by aromatherpay.meetup.com
Foto: Bucolismo, Fonte tripodi imagens

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Datura Noir, Serge Lutens


Datura Noir é o perfume da misteriosa e hipnótica flor de Datura, dissimulada assim como todas as notas deste perfume logo no início. A dissimulação olfativa em Serge Lutens é doce, atraente e, intempestivamente, temporária como um leque de opções de pequenos atalhos, ela te seduz para fazer-te seguir vários caminhos, todos efervescentes e serenos, como paradoxos que se unem, para o bem ou para o mal. As notas encobrem quem são como esconderijos neste caminho, elas podem confundir teu olfato como pedras te fazendo tropeçar e , mesmo assim, o desejo que terás é levantar-te e encontrar o mapa deste labirinto olfativo, mapa que somente Serge Lutens terá.
Datura Noir é uma destas obras de dissimulação olfativa em forma de conteúdo e frasco de perfume. A fragrância não finge muito, simplesmente porque o mecanismo de defesa incial de todas as notas é só um tipo de sedução e de diferenciação do perfume. O desenvolvimento é bárbaro, gradual e deslubrante e a única intenção hostil do perfume é envenenar-te com esta flor de Datura, rara e tida como a flor diabólica e noturna.
A saída do perfume abre todos os caminhos possíveis como um labirinto, praticamente as notas principais estão presentes: flor de datura, amêndoas, côco, tuberosa e heliotrópio.






Para quem tem a experiência memorável de confrontar-se com muitos atalhos em forma de notas olfativas, o labirinto aromático da saída em Datura Noir é como um quadro abstrato que, embora aparentemente sem nexo, ainda parece ter uma organização. Uma arte perfumada que compila inúmeras imagens de matérias fragrantes, não tão claras mas presentes. As notas florais são como contemplar a lembrança do jardim, como no quadro de Paul Klee, saber que estão lá, mas ainda não como protagonistas da evolução deste caminho. As demais notas servem como focos de obstinação, por algo que provoca o desejo e a realização deste. O desejo de envaidecer-se com o corpo macio e adocicado das mesmas.
O blending das notas acima é suntuoso e instigante com ondas de um calor insuportavelmente cativante no início. A doçura amendoada, a tuberosa narcótica, as insinuações macias do côco atiçam o desejo indestrutível de conhecer a flor de Datura e ir de encontro às delícias encorpadas na base como a baunilha, o tonka bean e o almíscar.O aroma doce chega a sufocar o olfato como uma droga que trará uma sensação libertadora.
Em pouco tempo, após a entrada majestosa do labirinto olfativo digno de Serge Lutens, o perfumista prova que sensações olfativas e libertadoras fazem parte de sua alquimia de nicho. O doce diminui expressivamente, notas de amêndoas cedem bem mais espaço a toques de um floral abaunilhado muito leve que toma conta do perfume.Neste momento é como ver um novo atalho, iluminado, elegante e decorado com flores de datura, claras e decorativas. A beleza do desenvolvimento se dá com esta abertura do floral após um início compilatório de notas. A flor de Datura, inicialmente dissimulada, abre-se na pele, desvenda sua magnitude e a de seu idealizador. Algumas vezes fica mais adocicada, outras vezes mais amendoada, como caminhos aromáticos que se abrem surpreendentemente.
Após duas horas de evolução, o perfume atinge o seu momento conforto. O caratér hipnotizante torna-se mais manso como de quem abre os braços para um abraço sensual e carinhoso. A nota de tonka bean é aparente e confortável juntamente com a baunilha, ambas seduzem para um afago na pele e dão uma sensação olfativa e afrodisíaca de um discreto aroma de chocolate.
A lembrança do labirinto olfativo é constante, no entanto agora o mesmo não está mais encoberto. As flores desabrocharam e abriram caminho para as demais notas de Datura Noir.




Foto: Arte Remembrance of a Garden , Paul Klee
Vídeo: Datura flower , courtesia Youtube

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Inspiramos o perfume, inspiramo-nos em Serge Lutens

Na continuidade de uma homenagem, não há nada melhor do que mostrar um pouco do que pensa o homenageado. Para isso, selecionei a entrevista mais inspiradora de Serge Lutens, porque assim como inspiramos o perfume, inspiramo-nos em quem o cria. Serge Lutens é pura inspiração.
Embora de poucas palavras, mansas e até filosóficas em muitos aspectos, a entrevista que ele concedeu a Plurielles França é , como se diz em inglês, breathtaking. Uma entrevista sucinta cheia do espírito Lutensiano, sensível , inteligente e espontânea. Como blogger fã, eu não preciso seguir com as palavras agora. A palavra é do mestre.




Merci por existir, Lutens!

Depois de vários anos à serviço da imagem da Dior e, em seguida, da Shiseido, Serge Lutens estabelece sua boa imagem de ovni no mundo dos perfumes com uma perfumaria de criação de aromas autênticos. Entrevista de um mestre

Como nasceu o desejo de criar perfumes? Ele veio progressivamente, com o tempo, sem a inteção da partida. Eu vivo desde um tempo no Marrocos e como sou introvertido, eu tenho uma acuidade sensorial muito desenvolvida. Meu encontro com Marrakech e os favos odoríferos foram um catalisador. Este país reavivou meu desejo e minha visão do perfume de origens, antigas e
orientais.

Como você trabalha? O ato de criação não é um ato de decisão, não há uma receita. Toda receita na perfumaria é uma mentira. Os mestres do perfume estão vivos e eles se deslocam, você muda a cada instante onde você não pensa em ir. De tempos em tempos a um caminho sem saída, e em certos momentos em direção a roteiros maravilhosos. O perfume é uma sucessão de
contrastes, a gente não pode fazer o que deseja, não é uma tarte tartin...
Ainda que a tarte tartin seja um erro! O que se passa entre o início de uma intenção e o final é subvertido pela mobilidade das maisons, os encontros... Mas quando o perfume é finalizado, eu digo a mim mesmo "sim, é isso". Minha única certeza é que eu sei fazer as coisas que eu amo. A partir do instante que eu não amo mais
fazer algo, eu não sei mais fazê-lo. Quando eu trabalhava com imagens, eu amava muito fazer nós nos cabelos, no que eu era bem sucedido logo de início. Quando eu não tinha mais vontade de fazê-lo, eu não mais o sabia.

Outra primeira emoção com o perfume? Um grande souvenir da infância é o aroma da fábrica de pain d'épice. Um odor elevadamente forte que eu não podia mais suportar. Agora eu adoro o aroma deste pão. A memória é uma enganação, Proust provou isso com sua pesquisa...

Sua primeira emoção com uma flor ? Quando a gente é pequeno, a gente tem uma vantagem: somos do mesmo tamanho das flores. O primeiro gesto que fazemos quando vemos qualquer coisa de bom, é senti-la. Margarida, lírio, rosa... Eu enfio meu nariz no interior delas. A lembrança é dupla, porque eu lembro de tudo que tem o mesmo contato com a superfície da flor.
É isso que é mais doce na rosa.


Para que serve um perfume? Todos nós somos frágeis. O perfume é uma arma contra a nossa fragilidade, nossa timidez. Ele serve para exprimir, para proporcionar a imagem mais coerente que adoraríamos que os outros tivessem de nós. Seduzir é ser você mesmo e encontrar os outros. De outra forma, isso pode ser útil para um comportamento social. Carregamos uma responsabilidade no começo e um perfume que nos reconheça em todos os lugares. Desta maneira, não nos arriscamos a ser amados por nós mesmos.


Seus projetos? Tentar fazer qualquer coisa que eu jamais tenha feito. Eu tenho muitos cadernos que eu preenchi com palavras, frases...Não são memórias
simplesmente de emocões compiladas. Às vezes eu as releio e acho divertido. Eu gostaria de fazer qualquer coisa. Entre as artes, a escrita é a que me dá mais emoção. Para mim, certas leituras são deslumbrantes , dão-me a impressão de serem mais próximas e verdadeiras que o real. Eu adoraria reescrever e reesboçar, mas eu sou tímido, então eu faço isso docilmente...




"Será Serge Lutens um beija-flor?"


Entrevista de Marie - Lucie Vanlerberghe para Plurielles.fr
Caso saiba francês, acesse a versão original, clicando aqui
Fotos: Serge Lutens. Fonte: perfumemaking blog
Beija-flor. Fonte blog serpia.club
Fotos e respectivos subtítulos meramente ilustrativos, não fazem parte da matéria original.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Especial Perfumes "O fabuloso mundo de Serge Lutens"

O mestre Serge Lutens. Nunca desejei conhecer nenhuma personalidade do ramo perfumístico, mas conhecê-lo seria uma experiência surreal.

Quem conhece minhas andanças perfumísticas, sabe que tornei-me uma íntima apreciadora de Serge Lutens, o poeta dos perfumes,como dito pela mídia
Plurielles francesa. Começar a conhecê-lo não seria possível sem algumas influências as quais tenho imenso prazer de divulgar aqui, os comentários Lutensianos dos estimados Gian, Grazy, Luiz Alberto e de algumas bloggers estrangeiras como Robin e Marina. Todos fãs pioneiros de Serge Lutens. Também agradecimentos especiais para as queridas Lélis e Bel, inveteradas fãs de Serge Lutens e também para meus fornecedores de perfumes na Europa que através de seus maravilhosos serviços e parceria possibilitou-me aumentar meu acervo pessoal. Um beijo especial para meu amigo alemão Stony que , com carinho, enviou-me o famoso livrinho de perfumes sólidos de Monsieur Lutens, disponível somente para residentes europeus e a Shiseido França pelo atendimento virtual.
Serge Lutens está na área de cosméticos e perfumes há um bom tempo, tendo percorrido carreira na Dior e Shiseido, principalmente na área de makeup, mas caiu no gosto dos perfumistas e apreciadores do inigualável mundo da perfumaria de nicho após a concepção de um dos perfumes clássicos da marca Shiseido, o Feminité du Bois, um perfume brilhante e que abre um novo conceito de perfumes especiais, cujo mix usa notas de forma não-convencional, causando um estranhamento ao público, em comparação à perfumaria comercial.
Para dar vazão à sua linguagem "poética" e torná-la acessível em um frasco de perfume, o principal partner é, tão gênio quanto Serge Lutens, o nose (perfumista) Christopher Sheldrake, altamente capacitado tendo desenvolvido carreira em gigantes empresas como Quest Internacional, uma das empresas mais conceituadas do ramo de aroma e fragrâncias e que foi comprada pela poderosa Givaudan. Avon, Chanel, entre outras fazem parte de seu currículo. Ele é o responsável por tornar real a maioria das inspirações de Serge Lutens.



Chris Sheldrake ( no lado esquerdo, acompanhado de Polge)
Além de talentoso, é estiloso!


Serge Lutens representa a inovação da perfumaria alinhada a bases clássicas que tornam um perfume um artigo atemporal de consumo com arte. O clássico aqui é atingir o diferencial de ser um modelo de qualidade a ser seguido, mas não copiado; o diferencial de ser inesquecível , único e inimitável como um Madame Bovary de Flaubert na literatura, um Guernica de Picasso na arte. Como toda obra de arte, seus perfumes são inspirados em vivências muito particulares, de um criador que une vários continentes em seus trabalhos, principalmente sua intimidade com a cultura oriental, tanto que ele vive em Marrakech, o templo perfumado dos Marrocos.
Como um desbravador, seus perfumes exigem a tolerância para lidar com novas nuances, perfumes que começam de uma maneira na pele e, freneticamente ou mansamente, mudam o comportamento olfativo surpreeendendo quem os usa e se identifica com eles. Seus perfumes podem lembrar a infância, uma paisagem, um retrato, uma viagem, etc. Não é qualquer lembrança como uma foto estática e tradicional destas situações; é uma lembrança que requer um pensamento de analogia com relação à vida e a sua relação artística com perfumes, imagens sur(reais), novas leituras exatas ou inexatas. Os aromas de nicho, aparentemente rotulados como "maduros e sérios demais", trazem a alegria e a delícia da descoberta e descobrir é um ato de maturidade, de ir além, olhar o perfume menos como consumo de massa e mais como um objeto de arte, embutido de intenções, uma emoção criadora, estranhamentos diversos.
Como toda experiência única, este fabuloso mundo de perfumes de Serge Lutens gera muitos sentimentos múltiplos e igualmente únicos ; então permita-se sentir isso sabendo que não se confrontará com perfumes de massa que parecem feitos em linhas de produção. Se este é teu estilo, convença-te do contrário e , como dizem no jargão popular, "jogue-se" neste mundo Lutensiano, um mundo de questionamentos perfumísticos. Extremamente culto, a perfumaria de Serge Lutens alinha-se ao seu criador. É culta, no entanto a cultura de "pensar fora da caixa". Ela combina com a contramão da popularização de perfumes sem criatividade. Serge Lutens já alinhava inspirações da pintura em suas criações de makeup, em seus perfumes ele lhes agrega valores históricos, filosóficos, literários e, em geral, culturais. Um poeta dos perfumes para o qual o pensar perfumaria em uma nova forma de linguagem construtiva é o próprio perfume em si. Por isso eu vibro com sua arte e a de seu fiel escudeiro Sheldrake e o fato de proporcionarem-me uma melhor consciência olfativa.
Pelo incrível respeito e admiração que tenho por estes dois profissionais, pela competência artística de Serge Lutens e o talento técnico de Christopher Sheldrake, dedicarei-me ao especial perfumes "o fabuloso mundo de Serge Lutens", o qual conterá entrevistas publicadas, novas resenhas de perfumes, curiosidades e informações gerais que fazem valer a pena pesquisar e descobrir perfumes como criações de um dom artístico, um tipo de benção. O que me resta é divulgar estes perfumes com muito prazer e dizer a ambos: "Je l´aime a tous les deux"
(eu amo vocês dois).

Aguardo tua visita no blog. Seja bem vindo ao fabuloso mundo de Serge Lutens!



Foto de perfumes Serge Lutens. O perfume não é de consumo, mas o sonho sim!